Delegado preso suspeito de cobrar propina para liberar caminhão será transferido de presídio para Batalhão da PM
Desembargador argumentou que presídio comum oferece risco para o delegado. Clóvis César Reis Bueno foi preso após cobrar dinheiro de empresário tocantinense para liberar caminhão apreendido em Santana do Araguaia. Delegado Clóvis César Reis Bueno
Reprodução/Redes Sociais
A Justiça do Tocantins determinou que o delegado do Pará, preso no Tocantins, seja transferido para um batalhão da Polícia Militar, em Palmas. Clóvis César Reis Bueno estava no presídio de Cariri do Tocantins. Ele foi detido em flagrante suspeito de cobrar propina de R$ 15 mil a um empresário para liberar um caminhão apreendido em Santana do Araguaia (PA).
Clóvis foi preso na última segunda-feira (6), em Caseara. O empresário tocantinense que fez a denúncia conseguiu gravar o momento da entrega do dinheiro e da ordem de liberação do veículo.
A defesa do delegado entrou com pedido de habeas corpus alegando que a prisão preventiva se configura como antecipação da pena, que nem sequer colocaria o suspeito em regime inicial fechado. Argumentou ainda que Clovis tem problemas de saúde que podem ser agravados se mantido na prisão.
Ressaltou também o perigo que Clovis corre ao ficar em presídio comum, considerando a profissão de delegado de polícia.
Na decisão, o desembargador Marco Anthony Villas Boas, confirmou que a manutenção do delegado no presídio configura risco à integridade física dele, o qual ocupa o cargo de delegado.
Na decisão, o desembargador cita que recentemente o delegado atuou em uma operação que culminou na prisão de integrantes de facção criminosa, que estão no mesmo presídio. Por causa disso, ele determinou a transferência para um Batalhão da PM na capital.
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O empresário tocantinense que denunciou o delegado Clóvis César Reis Bueno, da Polícia Civil do Pará, pela cobrança de propina para liberar um caminhão contou detalhes de como o crime aconteceu. Ele conseguiu gravar o momento da entrega do dinheiro e da ordem de liberação do veículo. Os vídeos foram entregues à Polícia Civil do Tocantins e o g1 teve acesso.
O empresário conta que primeiro o delegado exigiu a quantia de R$ 15 mil para liberar o caminhão, mas afirmou que a carga não valia isso e conseguiu reduzir o valor.
“Ele fez uma ligação, na ligação ele diz que falou com outro delegado. Nessa hora eles entraram em um acordo entre eles. Saiu do carro um pouco e voltou e disse: a gente vai fazer por R$ 7.500. Eu falei, tudo bem, vou sacar o dinheiro”, contou.
Horas depois, os dois voltaram a se encontrar no estacionamento de um hotel, onde o empresário gravou o momento da entrega e da ordem de liberação:
Empresário: confere aí doutor.
Delegado: Não, conferiu tá certo.
Empresário: Tá bom então.
Delegado: Me manda aí a carteira de motorista dele, documento. Alguma coisa
Empresário: Do que vai pegar o caminhão?
Delegado: É
Em outro momento, o delegado confirma o valor e manda liberar o veículo:
Delegado: R$ 7.500, é isso?
Empresário: R$ 7.500!
Delegado: Vou te mandar a cópia do documento do [….] que vai fazer o auto de entrega, viu? Tá certo, do caminhão […] Eu já liguei pro Eduardo, já falei com ele que já está resolvida a situação aí. Só faz o auto de entrega, já falei com ele já, com o delegado. Faz o auto de entrega para o […] e pronto. Não tem que dar satisfação pra ninguém não. Pode entrar no meu nome mesmo e mande embora.
No vídeo, o delegado diz:
Delegado: Isso aqui, cara, vou ser sincero. Isso aqui eu não te cobraria nada, é pros meninos lá [sic], entendeu? Eu tô aqui e eles estão lá. Aí não arruma nada e eles começam aquele negócio, achar defeito no teu caminhão. Começa a colocar perícia, isso e aquilo. Resolve assim é a melhor coisa que tem.
O caminhão carregado de silagem foi parado no domingo (5) em uma barreira fiscal, no distrito de Barreira de Campo, onde a Polícia Militar do Pará verificou que o motorista era um adolescente de 17 anos, sem carteira de habilitação. O menor é “filho de criação” do empresário.
O empresário denuncia que o menor ficou detido ilegalmente e ameaçado.
“Os policiais, os agentes, colocaram ele dentro da cadeia e falaram pra ele: corre aí que eu vou atirar nas suas costas. O menino chegou traumatizado aqui, chegou transtornado. Por telefone eles falaram que ele tinha desacatado, mas quando viram que a coisa tomou uma dimensão não quiseram mais, não teve desacato. Não teve nenhum registro, só a questão da habilitação”, contou.
O g1 questionou a Secretaria de Segurança Pública do Pará sobre a suposta participação de um agente e do segundo delegado, identificado apenas como Eduardo, mas não houve resposta. Também procuramos o procurou o advogado Arthur Del Bianco Camatio, responsável pela defesa do delegado Clóvis César Reis Bueno.
Em posicionamento enviado nesta quarta-feira (9), a defesa afirmou que o cliente esteve em Palmas para fazer uma consulta médica. Também afirmou que ainda não teve acesso integral ao inquérito, mas apresentará provas da inocência do delegado.
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