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10/02/2025
Donos de clínica onde 70 pacientes foram resgatados tiveram outros estabelecimentos fechados por irregularidades, diz delegado
Tocantins

Donos de clínica onde 70 pacientes foram resgatados tiveram outros estabelecimentos fechados por irregularidades, diz delegado

fev 8, 2024


Conforme a investigação, há registro de denúncias de maus-tratos contra a clínica do casal em vários estados. Pacientes relatam rotina de punições e intimidação em clínica de reabilitação
O casal responsável pela clínica para dependentes químicos, que foi fechada após ser denunciada por manter 70 pacientes em cárcere privado, pode ter cometido o mesmo crime em outros estados. O estabelecimento na zona rural de Palmas foi fechado pela Polícia Civil nesta quarta-feira (7) após denúncias de maus-tratos contra os pacientes.
Os donos da clínica foram identificados como Felipe Oliveira da Veiga Lobo Colicchio e Tamara Maiara Batista Ferreira. A defesa do casal informou à TV Anhanguera que ainda não teve acesso integral ao processo e que por isso não irão se posicionar. Os dois foram levados para as Unidades Penais Masculina e Feminina da capital, onde estão à disposição da Justiça.
Conforme o Delegado Gregory Almeida, que comanda a investigação, existem registros de boletins de ocorrência no nome do casal em vários estados brasileiros, feitos por ex-internos e familiares. Segundo a polícia, os dois trocavam o local e nome da clínica.
“Essa clínica já funciona há vários meses naquele local. No entanto, a gente também está apurando que essa clínica já funcionou em outros locais e a partir de fiscalizações, seja de conselhos profissionais, de fiscalizações do Ministério Público, da Vigilância Sanitária, ela era fechada e reaberta em outros locais com outro nome, mas mantendo as mesmas irregularidades e os mesmos crimes”, afirma.
Buraco que os pacientes eram obrigados a cavar em caso de desobediências
Polícia Civil/Divulgação
Segundo o delegado, existe um histórico de clínicas de reabilitação em vários endereços que foram fechadas após denúncias semelhantes às do casal, de tortura e cárcere privado.
“Esse grupo há anos vem mantendo clínicas que eles fecham sempre após fiscalização de órgãos e reabrem em outros locais”, comenta o delegado.
Embora existam denúncias em diversos órgãos e até mesmo boletins de ocorrência contra os responsáveis pela clínica, esta é a primeira operação policial de busca e apreensão relacionada ao caso, e resultou na prisão em flagrante dos responsáveis.
Operação da Polícia Civil prende donos de clínica para tratamento de dependentes químicos
Conforme o delegado, o casal foi autuado em flagrante pelos crimes de maus-tratos, cárcere privado qualificado e furto de energia elétrica. Também há outro inquérito contra o casal pelo crime de tortura. As investigações continuam.
Entenda o caso
O resgate dos pacientes da clínica aconteceu durante uma operação da Polícia Civil na tarde desta quarta-feira (7). Ao todo, 70 homens foram encontrados e pelo menos 50 relataram que sofriam maus-tratos e tinham que tomar sedativos.
A prima de um paciente denunciou que os dependentes químicos da clínica eram colocados em um ‘buraco da punição’. “Se eles fizessem algo de errado ou passassem para o familiar o que estava acontecendo, alguma rebeldia aqui dentro, eles iam para aquele buraco e seriam punidos dentro daquele buraco”, contou Roseane Costa Santos.
Roseane é prima de um homem de 33 anos. Ele é de Marianópolis do Tocantins, na região oeste do estado, e estava internado no local há dois meses para tratar dependência química.
Buraco teria sido soterrado após operação da Polícia Civil
Polícia Civil/Divulgação
A existência do buraco também foi confirmada à produção da TV Anhanguera por um ex-interno do local. Ele pediu para não ser identificado, mas confirmou que havia agressões e contou que eram comuns surtos de pacientes psiquiátricos internados no mesmo local.
“Os pacientes entravam em surto e quando eles não davam o ‘danone’, que é uma mistura de vários tarja preta na água, ou haldol injetável, colocavam os pacientes para lavar roupa, louça ou cavar buraco de fossa […] O buraco era para servir de fossa de lixo e colocava para cavar, mas eu fiquei três meses e fiquei sabendo que quando a pessoa dava muito trabalho eles ameaçavam colocar dentro do buraco”.
A clínica funcionava em uma chácara na zona rural de Palmas. As grades nas janelas e portas, principalmente nos quartos, chamaram a atenção da equipe policial durante a operação.
Os policiais passaram quase 24 horas colhendo depoimentos dos pacientes e mais da metade confirmou as agressões físicas. Segundo os relatos, as visitas de parentes eram acompanhadas por um coordenador e os internos eram orientados do que poderiam ou não falar.
“Se desobedecessem aquele comando eles eram punidos cavando buracos na clínica ou com outros tipos de limpeza. Caso se recusassem a essa punição eles eram medicados e ficavam de um a dois dias sedados”, explicou o delegado Gregory Almeida.
Operação foi realizada nesta quarta-feira (7) na clínica, em Palmas
Kaliton Mota/TV Anhanguera
Casal preso
O casal responsável pela clínica foi preso preventivamente. Os dois foram levados para as Unidades Penais Masculina e Feminina da capital, onde estão à disposição da Justiça.
“A lei permite, sim, as internações voluntárias e as involuntárias. No entanto, a lei estabelece requisitos, como o laudo médico, como comunicação ao Ministério Público, que foi o que a gente não observou nessa clínica”.
Conforme o delegado, o casal foi autuado em flagrante pelos crimes de maus-tratos, cárcere privado qualificado e furto de energia elétrica. Também há outro inquérito contra o casal pelo crime de tortura. As investigações continuam.
Um dos quartos da clínica
Kaliton Mota/TV Anhanguera
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