Fetiche ou impulso? Fazer sexo em público pode envolver insatisfação pessoal ou na vida a dois, diz especialista
Após flagra em avenida de Palmas, terapeuta e sexóloga Glícia Neves abordou o assunto e explicou o que pode levar um casal a manifestar intimidade em locais públicos. Relembre situações que chamaram a atenção no estado. Caso recentes de sexo em público aconteceram em Palmas e Miracema
Divulgação/Redes sociais
Uma cena de sexo em público registrada na região central de Palmas movimentou as redes sociais durante a semana. Um casal estava em pleno ato sexual, abraçado no gramado do canteiro da Avenida NS-02. Esse não foi a primeira vez que cenas assim são filmadas no estado. Mas para além do exibicionismo ou fetiche, o comportamento pode ter significados mais profundos, que podem envolver insatisfações pessoais ou mesmo na vida a dois.
O g1 procurou a terapeuta e sexóloga Glícia Neves, que atende casais em Palmas, para falar sobre esse tipo de comportamento. Para começo de conversa, ela explica que a vida em sociedade exige que as normas sociais sejam seguidas, mesmo que a pessoa não concorde.
Ou seja, a manifestação de ato sexual praticado em local público ou aberto ao público, capaz de ofender as pessoas, a sociedade, é configurado crime de ato obsceno e os praticantes podem ter penalidades na esfera judicial.
Mas, analisando além da questão jurídica, a especialista explica que o comportamento pode partir da adrenalina do momento.
“Muitas vezes esses casais, que estão em lugares um pouco mais reservados, num flutuante, na beira da piscina, na praia, eles estão em local aberto ao público. Talvez esse casal não quisesse que a sexualidade, que a intimidade deles fosse colocada em público. Mas ali está na adrenalina, no tesão, no calor do momento e isso acaba acontecendo”, disse.
Casal foi flagrado tendo relação sexual no canteiro de avenida no centro de Palmas
Além do flagra em Palmas, que aconteceu na madrugada de segunda-feira (22), outros casos também chamaram a atenção, principalmente da internet. Em setembro de 2022, um casal foi filmado ‘in love’ dentro de um flutuante no lago. Outros dois apaixonados também foram filmados enquanto estavam em uma piscina transparente em um hotel de Miracema do Tocantins.
Os vídeos bombam nas redes sociais por serem explícitos, mas para a terapeuta esse tipo de ação sempre existiu. O que faz chegar a um público maior é o fato de praticamente todo mundo ter um celular em mãos e conseguir filmar assim que tem a oportunidade.
“Essas manifestações sexuais mais abertas, mais públicas sempre existiram e vão continuar existindo. Só que antigamente não tinha uma coisinha chamada celular. Então a pessoa estava um pouco mais livre para ter os seus atos sexuais um pouco mais abertos, ou seja, para burlar um pouco o sistema, para quebrar um pouco a regra do crime do ato obsceno. As pessoas já faziam isso e elas não vão parar. Só que hoje tem sempre alguém com um celular em algum lugar então acabou que isso está mais evidenciado”, pontuou.
LEIA TAMBÉM:
Vídeo: Casal é flagrado fazendo sexo no canteiro de avenida no centro de Palmas e imagens viralizam
Casal faz sexo em flutuante no lago de Palmas e vídeo viraliza nas redes sociais
Vídeo flagra casal fazendo sexo em piscina transparente em pousada de frente para praia no Tocantins
Vídeo mostra casal fazendo sexo em estacionamento de Palmas
Por quê fazer?
Quando surgem esses tipos de filmagens, uma das perguntas que surge na cabeça dos ‘espectadores’ é: o que leva um casal a ter vontade de mostrar momentos de intimidade sexual em público? Para a terapeuta, essa pergunta tem algumas respostas, mas todas podem ter origem de algo maior, como a insatisfação em algum setor da vida.
“No primeiro momento pode ser adrenalina, o tesão do momento, a química do momento, aproveitar o momento, que simplesmente você desliga todo seu resto racional, todo Id, Ego e Superego e dá vazão àquilo ali. Desligou, fez e as consequências virão depois, porque você nunca está mais sozinho hoje em dia”, disse.
Casal é flagrado fazendo sexo em piscina de pousada em Miracema do Tocantins
Também há o desenvolvimento de comportamentos fora do padrão social, explicou Glícia. “Em um segundo momento pode ser que essa pessoa tenha uma parafilia, que são comportamentos sexuais não aceitos pela sociedade, algum comportamento que saia do padrão. Quando a gente fala em sexo não tem muito como estabelecer padrões, porque depende muito daquilo que a pessoa está sentindo no momento, mas a sociedade tenta colocar esses padrões”.
Dentro das chamadas parafilias, existe o voyerismo, caracterizado pelo desejo, fetiche e excitação em ver alguém fazendo sexo ou ser visto durante o ato. Para a especialista no assunto, casais podem ter esse tipo de parafilia. Enquanto é praticado entre quatro paredes, pode ter certa aceitação. Mas se vem a público, a coisa ‘muda de tom’. Nesse sentido pode-se perceber as questões da necessidade de validação ou insatisfação pessoal, mesmo que implícitas.
“Tem casais que buscam isso e tem muito a ver com o sentimento de validação porque o sexo. Principalmente para o homem tem muito aquela coisa da conquista, o formato fálico, é o homem que desbrava, é o homem que faz movimento forte, é o homem que coloca a mulher em várias posições. Então para o homem tem muito essa questão de ego, de ‘eu posso’, uma sensação de validação. Voyer tem muito isso, ele quer ser validado através daquela possível projeção de poder através do ato sexual”.
Nesse contexto, Glícia afirmou que são os homens quem costumam incentivar e motivar as mulheres a seguirem com o ato em público.
Influência da pornografia
Juntando à necessidade de validação e possível presença de parafilias, o grande consumo de pornografia com fácil acesso por meio da internet, também pode ter sua parcela de culpa ao acender esse tipo de desejo nas pessoas. Para a terapeuta e sexóloga, as pessoas buscam experiências similares a esse tipo de conteúdo.
“As pessoas estão usando o sexo como uma válvula de escape para tentar aliviar alguma tensão, algum medo, algum vazio existencial na relação sexual. E aí a gente vai ver muita coisa nesse sentido porque as pessoas estão saindo de si e buscando suprir essa necessidade interna que não vão conseguir com o sexo”, explicou.
Exposição é o ‘menor’ dos problemas
Pode parecer irônico, mas a exposição em cenas de sexo como o da avenida de Palmas ou da piscina no hotel é o menor dos problemas para os envolvidos. Pode existir algo que vai além do comportamento em si, mas que envolve o pensamento que gerou o gatilho para a ação possivelmente ‘impensada’.
Ou seja, pode ser que exista algo a mais na vida da pessoa por trás do comportamento do que apenas a atividade sexual. Para a sexóloga e terapeuta, as pessoas pouco observam essas questões mais profundas.
Casal é flagrado fazendo sexo em flutuante no lago de Palmas
“O comportamento por si só não tem efeito nenhum, tem uma forma de pensar antes. Essa forma de pensar pode ser ‘quero validar quem eu sou’, ‘quero me sentir amado’, ‘quero me sentir apreciado’, ‘quero que as pessoas me valorizem’, ‘quero ser visto’, ‘quero ser famoso’. Tem um sentimento de falta interno que faz com que as pessoas busquem o sexo para suprir essa necessidade. E isso é uma coisa que nunca vai funcionar. Preciso aliar o que está dentro de mim, qual é o vazio da minha alma que me faz beber até cair no chão e depois fazer sexo em lugar público”, alertou Glícia.
Rotina não é vilã
A ideia de rotina é quase que ‘demonizada’ de forma geral, como se fosse a causa da mesmice dentro de um relacionamento ou mesmo a destruição dele. Mas mesmo sendo encarada como negativa para muitos casais, a especialista também destacou os benefícios de se ter os mesmos hábitos no dia a dia, principalmente com relação à vida sexual.
“A rotina precisa existir dentro de um relacionamento. Você tem duas formas, você pode construir uma rotina que já seja prazerosa, e aí nessa construção você vai sentir prazer em tudo que você faz, e você pode construir uma rotina que seja cansativa. Aí na cansativa, você fica com aquela sensação de que precisa sair da rotina para alguma coisa acontecer. E isso não funciona, porque você vai sair da rotina uma vez e depois não consegue mais”, afirmou.
A situação rotineira pode não ter tanta complexidade, mas ainda assim precisa de uma atenção para identificar os pontos em que o casal precisa trabalhar. Para isso, Glícia orientou a busca por uma terapia de casal ou sexual para focar no que está causando a ‘frieza’ da relação.
“Fazer sexo ao ar livre, viajar, buscar casa de swing, abrir relacionamento, tudo isso é fuga da realidade. Não é assim que a gente busca esse bem-estar interno. Não é fora, ele é dentro. Então o que está dentro de cada um, provocando esse distanciamento, gerando essa frieza no relacionamento, aí é que a gente precisa trabalhar. A grande transformação não está no comportamento, não está na ação, não está no fazer. Está na mentalidade das pessoas envolvidas”, deu a dica.
Terapeuta e sexóloga Glícia Neves atende casais
Divulgação
Veja mais notícias da região no g1 Tocantins.