Indígena que limpava banheiros para manter os estudos está fazendo doutorado em Paris
João Paulo Hakuwi Kuady, de 27 anos, leva com orgulho sua origem étnica. Ele se formou na Universidade Federal do Tocantins (UFT) e depois fez mestrado na Universidade de Brasília (UnB). Estudante faz doutorado em Paris
Reprodução/Instagram
Onde quer que esteja o indígena João Paulo Hakuwi Kuady, de 27 anos, leva com orgulho sua origem étnica. Há sete anos o estudante limpava banheiros para manter os estudos durante o ensino médio e hoje faz doutorado em Paris, capital da França.
“Sempre tive muito sonho de fazer intercâmbio, só não sabia como e quando. Até pelas questões de dificuldades tanto financeiras quanto de perspectivas”, relembra.
De nome indígena Mairu, o jovem da etnia Karajá estuda relações internacionais. Ele se formou na Universidade Federal do Tocantins (UFT) e depois fez mestrado na Universidade de Brasília (UnB), onde integrou Observatório dos Direitos e Políticas Indigenistas. No doutorado, o jovem segue preservando os saberes dos povos originários.
“Hoje me ver nesse lugar é algo muito especial para mim e inspirador para o meu povo”, comenta.
Para que mais indígenas possam ter acesso a um ensino superior com mais facilidade, o Ministro da Educação criou um grupo de trabalho para estudar a criação de uma universidade indígena. Para Mairu, a iniciativa é um avanço para a valorização da cultura indígena.
“Isso contribui para o fortalecimento da nossa identidade, de pertencimento de um povo, a valorização da nossa identidade e a representação política também. É uma forma que a gente encontra de reivindicar nossos direitos, dos nossos deveres e valores”, afirma Mairu.
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Mairu Hakuwi Kuady foi um dos primeiros estudantes Karajá a ingressar no ensino superior
Reprodução/ Instagram
A UFT foi a primeira universidade brasileira a estabelecer cotas para estudantes indígenas nos processos eletivos. A reserva de vagas começou a valer em 2004. No estado, a população dos povos originários soma mais de 20 mil pessoas autodeclaradas indígenas, representando 1,32% da população total.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Tocantins é o segundo estado do Brasil com maior percentual de indígenas vivendo dentro de terras indígenas, quase 76%. O estado fica atrás apenas do Mato Grosso que chega a quase 78%.
Na época de sua aprovação no vestibular, Mairu falou sobre as dificuldades enfrentadas antes e depois de ingressar na universidade. “As pessoas imaginam que é fácil, mas não entendem que competimos de acordo com a dificuldade e diferenças particulares de cada povo. Nós aprendemos primeiro as nossas línguas maternas e só depois o português que é muito difícil”, explicou.
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