Vítimas e testemunhas são ouvidas em processo contra clínica de reabilitação acusada de manter pacientes em cárcere
Ao todo 68 pessoas serão ouvidas pela Justiça. Clínica para dependentes químicos funcionava na zona rural de Palmas e pacientes acusam proprietários de maus-tratos. Clínica de reabilitação acusada de manter pacientes em cárcere privado funcionava em chácara na zona rural de Palmas
Kaliton Mota/TV Anhanguera
A Justiça do Tocantins começou a ouvir testemunhas, parentes e vítimas do caso da clínica de reabilitação de Palmas, acusada de manter pacientes em cárcere privado. Em fevereiro deste ano, 70 homens foram encontrados no local e pelo menos 50 relataram que sofriam maus-tratos e tinham que tomar sedativos.
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A audiência de instrução é realizada na 1ª Vara Criminal da Capital, sob a coordenação do juiz titular Cledson José Dias Nunes. Ao todo 41 vítimas serão ouvidas, mais quatro parentes de ex-pacientes e 23 testemunhas de acusação e de defesa. O casal que administrava a clínica está sendo acusado de sequestro e cárcere privado.
A defesa dos acusados informou que só vai se pronunciar sobre o caso após o avançar da instrução criminal.
Por conta do grande número de pessoas a serem interrogadas no processo, a audiência será realizada em oito datas diferentes. O calendário foi definido por meio de cooperação entre as partes, sendo que 23 ex-pacientes foram ouvidos na quarta-feira (7).
Nesta quinta-feira (8) serão interrogadas vítimas e informantes indicados pelo Ministério Público (MP). Nos dias 9, 12 e 13 deste mês será a vez das testemunhas indicadas pela acusação e, nos dias 26, 27 e 28 serão ouvidas as testemunhas de defesa e os dois acusados que administravam a clínica.
Polícia Civil investiga clínica irregular que mantinha 70 pessoas em cárcere privado
Relembre o caso
No dia 6 de fevereiro, a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão na clínica, após recebimento de denúncias. O local atendia pessoas em reabilitação contra álcool, drogas e até portadores de deficiência, mas não tinha a documentação necessária para atuação.
Conforme a denúncia, o casal estaria privando os pacientes do tratamento de saúde adequado, os obrigavam a fazer trabalhos excessivo, além de usar meios de correção inadequados. Os policiais ainda encontraram ligações irregulares de energia elétrica, situação que também está na denúncia.
Grades trancadas na clínica irregular
Divulgação/Polícia Civil
Segundo a polícia, no local havia até um “buraco da punição”, onde pacientes foram colocados. Pelo menos 68 pessoas entre moradores de Palmas e do interior, inclusive adolescente, estavam em tratamento na clínica.
As investigações começaram quando um dos pacientes esteve na 1ª Central de Atendimento da Polícia Civil, em Palmas, para fazer denúncia, em novembro de 2023. Ele relatou que sofria agressões físicas e psicológicas. Quem cometia o crime seriam dependentes químicos que estavam em tratamento, que trabalhavam na clínica e eram incentivados por Felipe a praticar as agressões.
O inquérito policial levou ao pedido de busca e apreensão, que aconteceu em fevereiro. Os policiais encontraram portas e janela com grades e alguns dos pacientes trancados.
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‘Reintegração baseada na espiritualidade’
Os agentes que fizeram as buscas na clínica encontraram, além dos pacientes em cárcere, muita sujeira nos quartos coletivos e um forte odor de suor e urina. Os internos relataram que eram obrigados a fazer trabalho forçado e como punição, tinham que tomar sedativos, chamados de ‘danone’.
O contrato para tratamento não era adequado para o tipo de serviço prestado, segundo a denúncia. A promotoria teve acesso a um dos documentos que dizia que a clínica oferecia um serviço de ‘reintegração baseado na espiritualidade’.
Muitos pacientes relataram ainda que foram para a clínica de forma involuntária e conforme a denúncia, os parentes eram enganados quanto às condições do estabelecimento com fotos que não condiziam com a realidade local.
Buraco que os pacientes eram obrigados a cavar em caso de desobediências
Polícia Civil/Divulgação
Depoimentos de pacientes
Um dos pacientes disse em depoimento que entrou para o tratamento de forma voluntária, mas se arrependeu e quis sair. Entretanto, foi impedido por causa da multa do contrato. Ele relatou que Felipe mandava os coordenadores agredirem os pacientes.
Outro paciente afirmou que não passou por nenhum atendimento médico que autorizasse a internação. Muitos contaram que eram mantidos trancados e além dos trabalhos forçados, eram obrigados a cavar buracos na área da clínica, que funcionava em uma chácara.
Um dos quartos da clínica
Kaliton Mota/TV Anhanguera
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