Empresário conta detalhes e expõe gravação da entrega de propina para delegado liberar caminhão
Empresário tocantinense que denunciou o delegado Clóvis César Reis Bueno, da Polícia Civil do Pará, por cobrar R$ 15 mil para liberar veículo. Suspeito foi preso em flagrante pelo crime de concussão. Empresário relata situação de corrupção envolvendo delegado do Pará preso no Tocantins
O empresário tocantinense que denunciou o delegado Clóvis César Reis Bueno, da Polícia Civil do Pará, pela cobrança de propina para liberar um caminhão contou detalhes de como o crime aconteceu. Ele conseguiu gravar o momento da entrega do dinheiro e da ordem de liberação do veículo. Os vídeos foram entregues à Polícia Civil do Tocantins e o g1 teve acesso.
Delegado: Isso aqui, cara, vou ser sincero. Isso aqui eu não te cobraria nada, é pros meninos lá [sic], entendeu? Eu tô aqui e eles estão lá. Aí não arruma nada e eles começam aquele negócio, achar defeito no teu caminhão. Começa a colocar perícia, isso e aquilo. Resolve assim é a melhor coisa que tem.
Clóvis César foi preso em flagrante pela Polícia Civil do Tocantins na segunda-feira (6) enquanto tentava cruzar a divisa entre Tocantins e Pará, suspeito do crime de concussão. Ele foi afastado das funções pela polícia paraense e segue preso em um presídio do Tocantins. A defesa dele nega as acusações. (Veja nota abaixo)
“Hoje eu estou tranquilo, não tenho medo de rebordose [sic] alguma que venha acontecer”, disse o empresário, que preferiu não ser identificado na reportagem.
O que se sabe sobre o delegado do Pará suspeito de exigir propina de R$ 15 mil para liberar caminhão
Delegado Clóvis César Reis Bueno
Reprodução/Redes Sociais
O caminhão carregado de silagem foi parado no domingo (5) em uma barreira fiscal, no distrito de Barreira de Campo, onde a Polícia Militar do Pará verificou que o motorista era um adolescente de 17 anos, sem carteira de habilitação. O menor é “filho de criação” do empresário.
A primeira informação recebida pelo empresário foi de que o veículo seria apenas multado e poderia ser liberado desde que um condutor habilitado fosse enviado. Mas não foi isso que aconteceu.
“Na primeira abordagem falaram para arrumar alguém habilitado para pegar o caminhão. Eu estava providenciando isso e um dos soldados perguntou: de quem é esse caminhão? Tá vindo de onde? Ele respondeu que era da fazenda que eu arrendo. Aí diz que um gritou lá de dentro: segura o caminhão e mete ferro”, disse o empresário.
Depois disso, o veículo foi enviado para a delegacia de Santana do Araguaia (PA). O empresário denuncia que o menor ficou detido ilegalmente e ameaçado.
“Os policiais, os agentes, colocaram ele dentro da cadeia e falaram pra ele: corre aí que eu vou atirar nas suas costas. O menino chegou traumatizado aqui, chegou transtornado. Por telefone eles falaram que ele tinha desacatado, mas quando viram que a coisa tomou uma dimensão não quiseram mais, não teve desacato. Não teve nenhum registro, só a questão da habilitação”, contou.
Enquanto o menor estava na delegacia um agente da Polícia Civil do Pará supostamente começou a fazer contato para orientar a liberação. Primeiro foi passado o contato de uma advogada que faria a “modulação” e depois o contato do próprio delegado Clóvis.
Em Palmas, na segunda-feira (6), o delegado Clóvis e o empresário se encontraram no estacionamento de uma clínica. O empresário conta que primeiro o delegado exigiu a quantia de R$ 15 mil para liberar o caminhão, mas afirmou que a carga não valia isso e conseguiu reduzir o valor.
“Ele fez uma ligação, na ligação ele diz que falou com outro delegado. Nessa hora eles entraram em um acordo entre eles. Saiu do carro um pouco e voltou e disse: a gente vai fazer por R$ 7.500. Eu falei, tudo bem, vou sacar o dinheiro”, contou.
Horas depois, os dois voltaram a se encontrar no estacionamento de um hotel, onde o empresário gravou o momento da entrega e da ordem de liberação:
Empresário: confere aí doutor.
Delegado: Não, conferiu tá certo.
Empresário: Tá bom então.
Delegado: Me manda aí a carteira de motorista dele, documento. Alguma coisa
Empresário: Do que vai pegar o caminhão?
Delegado: É
Em outro momento, o delegado confirma o valor e manda liberar o veículo:
Delegado: R$ 7.500, é isso?
Empresário: R$ 7.500!
Delegado: Vou te mandar a cópia do documento do [….] que vai fazer o auto de entrega, viu? Tá certo, do caminhão […] Eu já liguei pro Eduardo, já falei com ele que já está resolvida a situação aí. Só faz o auto de entrega, já falei com ele já, com o delegado. Faz o auto de entrega para o […] e pronto. Não tem que dar satisfação pra ninguém não. Pode entrar no meu nome mesmo e mande embora.
No fim da gravação, o delegado Clóvis tenta justificar a cobrança:
Delegado: Isso aqui, cara, vou ser sincero. Isso aqui eu não te cobraria nada, é pros meninos lá [sic], entendeu? Eu tô aqui e eles estão lá. Aí não arruma nada e eles começam aquele negócio, achar defeito no teu caminhão. Começa a colocar perícia, isso e aquilo. Resolve assim é a melhor coisa que tem.
O g1 questionou a Secretaria de Segurança Pública do Pará sobre a suposta participação de um agente e do segundo delegado, identificado apenas como Eduardo, mas não houve resposta. Também procuramos o procurou o advogado Arthur Del Bianco Camatio, responsável pela defesa do delegado Clóvis César Reis Bueno.
Nesta segunda-feira, a 2ª Vara Criminal de Palmas decretou a prisão preventiva do delegado. Ele continua preso em um presídio do Tocantins. Segundo o advogado Arthur Del Bianco Camatio, “a defesa já está trabalhando na solução jurídica adequada contra a decisão que converteu a prisão em flagrante em prisão preventiva.”
Em posicionamento enviado nesta quarta-feira (9), a defesa afirmou que o cliente esteve em Palmas para fazer uma consulta médica. Também afirmou que ainda não teve acesso integral ao inquérito, mas apresentará provas da inocência do delegado. (Veja a nota abaixo)
O que diz a defesa do advogado
Com relação aos fatos recentemente veiculados na mídia, esclarecemos que:
1 – Ao contrário do que está sendo veiculado na mídia, o Senhor Clóvis esteve em Palmas/TO, para a realização de consulta médica, o que será devidamente comprovado no decorrer da investigação.
2 – É profundamente lamentável a espetacularização e exposição desumana que estão promovendo neste caso, assim como, o vazamento de fotos e informações sigilosas, em uma tentativa desproporcional de pré-julgamento e clara violação aos direitos fundamentais estabelecidos na Constituição Federal. A defesa informa que tomará todas as medidas judiciais cabíveis para apurar tais violações e punir todos os responsáveis.
3 – Cumpre ainda informar que o inquérito policial foi remetido para a delegacia de Palmas/TO e diante disso, até o momento a defesa não teve acesso integral aos documentos que compõem o inquérito, o que compromete seriamente o exercício do contraditório e ampla defesa.
4 – Oportunamente, a defesa se manifestará acerca da materialidade dos fatos, bem como, entrará com todos os recursos cabíveis, apresentando provas irrefutáveis que atestarão a inocência do Senhor Clóvis.
Acreditamos na Justiça e confiamos que a verdade será restabelecida.
Arthur Del Bianco Camatio | OAB/SP nº 371.305
Leonardo Braga Duarte | OAB/TO nº 8.161 – OAB/PA nº 28.326-A
Cléo Reis Bueno | OAB/PA nº 26.101
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